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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Viagem Solitária de João W Nery - O primeiro transhomem brasileiro que lançou autobiografia no II Trans Day NIGS

O ano de 1977 é inesquecível para João W. Nery. Mais precisamente no dia do seu aniversário, quando ele completou 27 anos, João ‘renasceu’. No dia anterior ainda era Joana. Agora, João. Ele foi o primeiro aventureiro numa escalada científica incerta, naquela época, em nosso país, no que diz respeito às cirurgias de mudança de sexo. Clandestinas, em plena ditadura, as intervenções cirúrgicas do processo transexualizador só foram legitimadas no Brasil a partir de 1997.
Apesar desse avanço tardio, ainda há muito que progredir no país, principalmente, no âmbito jurídico.

Um pouco dessas mudanças e muito dos percalços pelo qual João passou em quase toda a sua existência é o que encontramos narrado de forma interessantíssima pelo autor, em “Viagem Solitária- Memórias de um Transexual Trinta Anos Depois” lançado no mês passado pela Editora, LeYa.·.
Neste livro, João W. Nery faz uma releitura de sua própria história, já que em 1984, publicou pela Editora Record, “Erro de Pessoa: João ou Joana?” (esgotado) em que fazia um périplo da sua infância até o momento das cirurgias. “Viagem Solitária” vai mais além, abarcando o período dos últimos 27 anos, tempo em que João experimentou a paternidade, envelheceu e hoje, tem que lidar com as consequências de uma reposição hormonal a longo prazo.
Dividido em quatro partes, “Desencontros”, “Descobertas”, “Metamorfose” e “Paternidade”, o livro escrito pelo primeiro transhomem do país é uma lição de vida, perseverança e generosidade. À medida que folheamos as 334 páginas, o escritor nos permite adentrar em sua intimidade, conhecendo de perto suas angústias, alegrias, coragem, mas acima de tudo, revelando um ser humano de uma tenacidade incrível.

João relata que a sua adolescência começou aos 30 anos, foi quando nasceu barba, pelos no corpo, espinhas na cara. Uma maravilha. Adorava ficar sem camisa, apesar das marcas.”
 Joana se formou em psicologia mais ao se tornar João ficou impedido de exercer a profissão, deixou de ser oficialmente um psicólogo, mas clinicou clandestinamente por um tempo. Depois, trabalhou numa construtora e comandou uma estamparia. Está há 13 anos no quarto e mais longo casamento. Tem um filho. Orgulha-se de ter feito “um homem feminino, no melhor sentido. Um cara sensível, carinhoso e gentil”. Lamenta só não poder mais dançar, o uso da testosterona em longo prazo lhe rendeu uma artrose no fêmur e um pinçamento na coluna.
Aos 60 anos, João já existe há mais tempo que Joana. Dos que o conhecem há menos tempo, são poucos os que sabem do seu passado, incluindo a sogra. Sobre a mania que temos de reduzir as coisas, ele desabafa: “Você nasce e morre dentro de caixas. Caixa da família, da escola, do casamento e depois vai para o caixão. Ponha o pé para fora disso e você já é estigmatizado. Tem que ter muita estrutura para segurar a peteca da marginalidade”.

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CAPA DO LIVRO: Viagem Solitária 
     JOANA             /              JOÃO        
Em mais de 300 páginas de autobiografia, João conta sobre sua infância reprimida, a solidão que tomou conta dele durante a adolescência, as dificuldades amorosas, a decisão de se submeter à cirurgia, em 1977, quando a mesma era proibida e os médicos que se dispunham a realizá-la eram indiciados.
O autor também fala sobre a perda de seu diploma de psicologia, ocorrida após a mudança de sexo, os quatro casamentos e o orgulho de ser pai.
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ENTREVISTA

PARTE 1


PARTE 2


PARTE 3


PARTE 4

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Este é um livro imprescindível para todos os que queiram ver melhor o espanto que é o ser humano: a dimensão e a importância do componente sexual como fonte da identidade individual e social são aqui penetradas com a vitalidade de uma vida vivida: sofrimentos e alegrias, e misérias e esperanças — não apenas do personagem autobiográfico — compõem esta realidade, e o que daí emerge é um real mais forte do que o captado pela ciência e um romance mais pungente que as ficções romanescas.
A minha primeira impressão é que João não nasceu mulher e quis virar homem. Nada disso. João nasceu homem, mas preso num corpo de mulher.

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